A Era do Vazio - Gilles Lipovetsky
(...) Não é verdade que os indivíduos procurem um desprendimento emocional e se protejam contra a irrupção do sentimento; a esse inferno povoado de nómadas insensíveis e independentes, devemos opor os clubes de encontros, os "pequenos anúncios", a "rede", todos estes milhões e milhões de esperanças de encontros, de ligações, de amor, que precisamente se realizam com cada vez mais dificuldade. É aqui que o drama é mais profundo do que o pretenso desprendimento cool: homens e mulheres continuam a aspirar tanto como antes (ou talvez nunca tenha avido até tanta "procura" efectiva como nesta época de deserção generalizada) à intensidade emocional de relações privilegiadas, mas quanto mais forte é a expectativa mais raro parece tornar-se o milagre fusional, ou, em todo o caso, mais breve. Quanto mais a cidade desenvolve as possibilidades de encontros, mais sós se sentem os indivíduos; quanto mais livres e emancipadas das coações antigas as relações se tornam, mais rara se faz a possibilidade de conhecer uma relação intensa. Por toda a parte encontramos a solidão, o vazio, a dificuldade de sentir, de ser transportado para fora de si; de onde uma fuga para a frente de "experiências", que mais não faz do que traduzir esta busca de uma "experiência" emocional forte. Porque não posso amar e vibrar? Desolação de Narciso, demasiado bem programado na sua absorção em si próprio para poder ser afetado pelo Outro, para sair de si - e, no entanto, insuficientemente programado, pois que deseja ainda um mundo relacional efectivo.
Etiquetas: A Era do Vazio, Gilles Lipovetsky
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